O Universo não é uma idéia minha. A minha idéia do Universo é que é uma idéia minha. A noite não anoitece pelos meus olhos, a minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos. Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentos A noite anoitece concretamente. E o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso. Fernando Pessoa
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sábado, 26 de novembro de 2016
Diferença entre solitude e solidão
“A
linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho.
E criou a palavra solitude para expressar a glória de estar sozinho”
(Tillich)
Etimologicamente, em português, tanto solidão quanto solitude vem do latim solitudine. No
nosso cotidiano, passamos a usar sempre a palavra solidão e vemos muito
pouco o uso da palavra solitude. Em inglês, a diferença entre solidão
(loneliness) e solitude destaca melhor o conceito que Tillich está
procurando descrever. Em alemão, igual diferença está presente nas
palavras Einsamkeit (solidão – loneliness) e Alleinsein (literalmente,
ser sozinho, solitude).
Temos que fazer estas diferenças,
porque estar e ficar e ser sozinho ou sozinha não quer dizer
necessariamente que será desagradável, certo?
Em muitos sentidos, encontramos verdade no ditado que diz: “Antes só do que mal acompanhado”.
Solidão – A dor de estar sozinho
A avaliação do que é agradável e do que é
desagradável é sempre um julgamento de valor. E os julgamentos de valor
são sempre muito individuais e também relativos a um momento específico
do tempo. No final das contas, podemos dizer que vamos avaliar algo
como agradável ou desagradável de acordo com o nosso desejo.
Por exemplo, imagine que você está
caminhando pela praia e começa a chover. Se você não estivesse desejando
a chuva, o momento seria avaliado como desagradável. Mas, se por um
segundo você apenas sentir o que está acontecendo, e até desejar a
chuva, a cena se transforma de desagradável para agradável.
Uma pessoa sozinha que deseja encontrar
um relacionamento, possui um desejo – o desejo de ter a companhia de
alguém. Deste modo, a solidão será facilmente ligada a uma ideia
desagradável. Como quem diz: “Estou sem ninguém. Eu desejo estar com
alguém. Logo, a solidão é ruim”.
Solitude – A glória de estar sozinho
Porém, o fato estar sozinho não precisa,
de maneira necessária, ser associado a algo ruim. Podemos ficar
sozinhos para colocar a cabeça no lugar, por os pensamentos em ordem,
pensar na vida, apreciar uma paisagem, dançar sozinho no escuro.
De acordo com o dicionário Michaelis, a
palavra solitude é um palavra de uso poético. A poética, por sua vez,
remete tanto à produção de algo novo como à apreciação e criação da
beleza. Ou seja, a solitude permite o tempo e o espaço e o silêncio para
fazer o útil ou o belo. Também permite não fazer nada. Também permite
desenvolver a espiritualidade, encontrar-se enquanto uma pessoa
diferente dos demais e se aceitar como se é – independentemente da
aprovação do outro (o problema sobre o qual conversamos no texto
anterior – Dependência Emocional).
Uma característica presente na solitude e
que não vemos uma referência frequente é a chance de ficar em silêncio.
Afinal, a linguagem serve para nos comunicar. E, se estamos sozinhos,
não precisamos nos comunicar. Portanto, a solitude torna viável o
silêncio. E o silêncio quase sempre traz calma, tranquilidade e paz.
Conclusão
Este texto é um pequeno elogio ao lado
positivo de estar sozinho, o que Paul Tillich chamou de solitude. Para
uma sociedade extrovertida como a nossa, estar sozinho (e querer estar
sozinho) é erroneamente associado com um problema. Como as pessoas que
veem alguém ir no cinema desacompanhado e riem da solidão alheia.
Porém, o que há de mais delicioso na
solitude é a liberdade. Quando estamos em uma relação, é inevitável
ceder um pouco ali e um pouco aqui. Estou falando de todo e qualquer
tipo de relação. Às vezes não queremos ir numa pizzaria, preferiríamos
ter ido ver um filme, porém, cedemos para satisfazer a vontade de um
amigo, de um parente, do cônjuge, do colega de trabalho.
Mas porque não ir ou fazer o que
queremos, depois, sozinhos? Nada impede e é esta a sensação de
liberdade, de poder ir e vir, e não precisar da aprovação de ninguém, da
concordância de ninguém, ter espaço para ficar em silêncio e não ter
quer ficar conversando sobre isto ou aquilo. A solitude é, portanto, uma
oportunidade. Uma oportunidade de liberdade e de silêncio.
É importante não confundir a solitude
com o isolamento total. Como dizia ironicamente Balzac, a solitude é
ótima desde que você tenha alguém para contar que a solitude é ótima.
Quer dizer, é difícil imaginar uma vida sem ter pessoas ao nosso redor.
Contudo, porque não ter momentos maravilhosos consigo mesmo?
Este é ponto. O ponto que complementa o
texto sobre dependência emocional. Assim, solitude é ser capaz de ser
independente. Ainda que a independência dure uma tarde, um dia, uma
viagem ou vinte minutos no chuveiro.
Para concluir, uma outra citação de um
grande pensador: “Um homem pode ser ele mesmo apenas se está sozinho; e
se ele não ama a solitude, ele não vai amar a liberdade; pois é apenas
quando ele está sozinho que pode ser verdadeiramente livre”
(Schopenhauer).
Fonte: http://www.psicologiamsn.com/2014/08/diferenca-entre-solitude-e-solidao-voce-conhece-diferenca.html
Retirado em: 26/11/2016
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